Cicatrizes Misteriosas - Capítulo 1

24 de mai. de 2014 | | |
    Meu peito doía profundamente. Abri os olhos com muita dificuldade. A luz fluorescente imediatamente fez com que eu levasse uma das mãos ao rosto, para evitar contato com a claridade. Eu estava trêmula. Quando finalmente pude me acostumar com a claridade, percebi que estava em um cômodo fechado, em cima de uma cama de hospital. Virei meu rosto, e dei de cara com alguém.
    — Está bem, querida? — uma mulher que estava ao lado de minha cama disse, sorrindo. Sua voz era calma e doce, como se realmente estivesse interessada em saber como me sinto. Provavelmente ela era a enfermeira. Apenas assenti com a cabeça, mesmo que a dor no peito estivesse me dominando — Crises de ansiedade, de novo? — riu fraco, enquanto anotava algo em uma espécie de prancheta. — Bem, alguns defendem esses sintomas como stress, mas eu prefiro dizer que é ansiedade, porque ela em si já envolve o stress. — sorriu
    — Marlene?! — perguntei pigarreando, forçando os olhos.
    — Mas é claro, oras! — riu. — A claridade deve estar afetando sua visão... — assnti novamente com a cabeça e voltei a fingir que ela não estava ali. Encostei-me no meu travesseiro. Ela colocou sua prancheta em uma mesinha, e passou a mão em seus cabelos loiros, para arrumá-los, e me fitou. — Essas crises de ansiedade e stress estão te afetando, SeuNome. Você deveria tomar mais cuidado com o que pensa, e nas atitudes que toma. Se não se controlar, estará exposta à vários riscos. Quer dizer, já está. Já pensou se, por exemplo... Você tem uma parada cardíaca? Isso está ficando cada vez pior... Anda tomando os calmantes que o Dr. Adam te receitou?
    — Eles não adiantam de nada. E dão sono. Que horas são? — tentei mudar de assunto. Ela deu uma olhadela em seu relógio de pulso.
    — Nove e cinquenta e seis da noite.
    — Cadê a minha mãe? Eu desmaiei? Quando essa dor vai passar? — a fitei.
    — Sua mãe foi tomar um café. Não, eu apenas dei um remédio e você dormiu. Depende de você. — ela parecia estar perdendo a paciência. Fechei os olhos, tentando relaxar. O fato de que eu havia parado em um hospital já não me afetava tanto. Ouvi o barulho da porta e imediatamente abri os olhos. Avistei uma mulher de cabelos castanhos iguais aos meus adentrar no quarto e me fitar. Suspirei aliviada.
    — Quero ir pra casa! — afirmei, com a voz monótona. Ela olhou para Marlene, como se perguntasse “posso levar?”, que assentiu com a cabeça.
    — Mas, cuidado. — Marlene enfatizou, antes que pudéssemos sair, alternando o olhar entre eu e minha mãe — É necessário que SeuNome administre seus pensamentos e evite o stress. Crises de ansiedade não tem uma cura literal, mas podem ser tratadas. Se quiser ter uma vida normal, fora de riscos, é necessário todo cuidado. Aliás, todo cuidado ainda é pouco. E, Beatrice... — olhou para minha mãe — Fique atenta às atitudes de sua filha, se necessário, corte tudo que pode fazê-la estressada. — revirei os olhos.
    — Ah, sim, claro, pode deixar — minha mãe disse, forçando um meio-sorriso.
    — Nos vemos na próxima. — Marlene sorrira como se tivesse certeza de que eu não conseguiria me controlar. Até eu sabia.
***
    Minha mãe rodou a chave duas vezes na porta, e entrou. A segui, parando atrás do sofá da sala. Pude ver meus irmãos reunidos na sala. Daniel ajudava Peter a ler, sorrindo. Daniel poderia ser um babaca na maioria das vezes, mas sabia perfeitamente ser um irmão mais velho. Ao contrário de mim.
   — SeuApelido! — disse Peter. — Eu consegui ler sem gaguejar! — seu entusiasmo era grande. Eu sorri.
   — Parabéns! — eu disse, sorrindo. Deixei-o na sala, e caminhei até as escadas, as subindo o mais rápido que podia. Meu peito ainda doía um pouco, mas era algo que eu seria capaz de controlar.
    Assim que alcancei a porta de meu quarto, fui em direção ao espelho. Por curiosidade. Para saber se eu aparentava estar tão doente assim... Meus cabelos castanhos estavam soltos e desgrenhados. Suspirei.
    Peguei meu celular na escrivaninha, à fim de discar o número de Dave. Mas, antes que eu pudesse fazê-lo, vi que eu tinha oito chamadas perdidas. Lana.
    Disquei seu número, preocupada com o que poderia ser.
    — Alô? Seu apelido? — sua respiração estava ofegante, sua voz frágil.
    — Sim, sou eu, aconteceu alguma coisa? — imediatamente imaginei o pior — Por que está assim? — disse, desesperada.
    — Onde você estava? — mudou de assunto, tentando controlar as emoções.
    — No hospital. Tive outra “crise de ansiedade”... Você sabe, estresse e tal… Mas, adiante logo o que iria dizer! — cobrei, aumentando o tom de voz
    — Droga... Eu não... — pareceu suspirar. A linha ficou silenciosa por algum segundo, e cheguei a cogitar a possibilidade de que alguém falecera. Lana sempre foi muito positiva, não se desesperava fácil, a não ser quando houvesse algum tipo de relação com as pessoas que ela gostava.  — Eu não quero te piorar nem nada, mas... O Dave... — ela parecia hesitar explicar, hesitar finalizar a frase.
    — O Dave o quê?! — as batidas do meu coração aceleraram, e fechei os olhos com força, com medo da bomba da vez. Dave era meu namorado há algum tempo, mas jamais fomos tão felizes como nos filmes. Toda vez que meu celular apitava e eu via seu nome na tela, não era para algo comum entre casais, como por exemplo para dizer: “Eu amo você”, era mais pra dizer “Eu estou parado no meio da avenida, e quase fui atropelado. Saia igual uma maluca para me auxiliar, obrigado”.  — Onde ele está?
    — No hospital... — respirou fundo. Fechei os olhos com força — Olha, eu não sei ao certo o que dizer, porque realmente nem deveria ter te ligado. Mas você é minha melhor amiga, e eu te amo, não poderia ter escondido algo tão forte assim de você... Bem, eu estava com seu primo...
    — Só Nathan. —  a interrompi. Minha relação com Nathan não era uma das melhores.
    —  Bem, eu estava com Nathan, e o telefone dele tocou... — sua voz era baixa. Logo entendi o porquê. Ela tinha medo de me machucar. Ela achava que eu sofria. —   Dave não conseguia falar, muito menos dirigir... — ouvi um forte suspiro —  SeuApelido, Dave entrou em um coma alcoólico. — resumiu, parecendo ter coragem de falar tudo de uma vez —   Eu sei que provavelmente ele pode ser curar, e que ele vai... Mas e se ele tiver perca de memória ou até mesmo... Acabar morrendo... Eu sei que é provavelmente é impossível, mas Nathan ficou tão assustado... Ele está tão assustado...
    Desliguei o telefone imediatamente. Senti meus olhos arderem, e logo já estava derrubando lágrimas. Eu estava cansada de esperar por algo que jamais iria vir, eu estava cansada de estraçalhar meu coração para concertar o dele, eu estava cansada, eu sentia como se novas chances de respirar fossem retiradas de mim... Mas, ao mesmo tempo, não conseguia tê-lo longe...
    Para evitar outra crise, chorando, sentei em minha cama e na gaveta do móvel ao lado peguei um dos calmantes, e com a ajuda da garrafa de água que estava em cima do mesmo móvel, ingeri.
    Peguei no sono com o travesseiro encharcado.
***
    Meus dedos estavam tremendo, e meu corpo suado. Sua voz ecoava sobre todos os quatro cantos, e eu não conseguia fugir. O terror possuía meu corpo, como se eu estivesse prestes a morrer. O hino que eles usavam, eram as risadas. “Vamos, mocinha, mostre que pode ser mais que uma idiota qualquer de dezesseis anos”, eles diziam, atormentando-me.
    —  ... vamos, acorda! —  Acordei com um grito  —  com o que estava sonhando? — Daniel riu. — Se quiser que eu te leve de carro, tem que agir depressa. Porque, pelo o que eu saiba, não está escrito “transporte público” nele.
    —  É claro. — levantei-me, ainda trêmula — Você sabe exatamente como ser um idiota, Daniel. — ele riu fraco, e abandonou meu quarto.
    —  Acho melhor ir logo — gritou de longe — Tenho que levar Peter à escola também. Essa tarefa era sua, mas agora é minha, porque, como todos sabemos, você mudou com todo mundo aqui em casa. — ouvi minha mãe repreendê-lo, mas ignorei. Não era verdade.
***
    Em menos de quarenta minutos, eu estava pronta. Mesmo de longe, o cheiro dos brownies que minha mãe fazia invadia meu nariz, e meu estômago roncava. Mas eu não queria comer nada por enquanto, somente queria saber como Dave estava. Caminhei até minha escrivaninha e peguei meu celular. Disquei seu número, com uma mínima esperança de que ele atendesse, mas sem sucesso. Tentei mais uma vez, e nada. Suspirei. Onde ele iria parar?
    Desci as escadas, e quando percebi, já estava caminhando sozinha.
***
    O meu primeiro horário era de química. Passei a aula praticamente inteira cabisbaixa, sem nenhuma reação. Apenas levantei as mãos assim que ouvi “SeuNome Miller” da boca do professor. Quando o intervalo chegou, pude observar a euforia dos alunos que estavam próximos de mim. Me locomovendo com dificuldade, caminhei em direção à mesa onde Lana, Jenn e Patrick estavam.
    — Quem é vivo realmente sempre aparece, ? — Patrick disse, usando ironia — Eu te liguei pelo menos umas vinte e cinco vezes ontem à noite, e você não atendeu. Claro, deveria estar ocupada demais se esfregando naquele tal de… Dave — levou o dedo em direção a boca, simulando um vômito. Patrick era gay. Como gays conseguem ser tão alegres e engraçados sempre?
    — Acontece…  — fechei o rosto, o encarando — Que eu estava no hospital. Satisfeito?
    — AimeuDeus! — vi seus olhos cor de café se arregalarem, acompanhados de culpa — Desculpa, amiga, sério, eu não sabia… O que aconteceu? Você está bem?
    — Crise de ansiedade. Você sabe, aquele negócio todo de stress, raiva, batimentos acelerados e tal…  Sim, estou bem. Sim, tomei os medicamentos. Sim, eu realmente estou bem. — adiantei as respostas das perguntas previsíveis, com tédio. O que eu mais andava ouvindo, eram as mesmas perguntas. Algo tão sem graça, e repetitivo… Ainda me pergunto se as pessoas não cansam de fingir preocupação simplesmente por dó. Eram apenas crises, elas não seriam capazes de me matar.
    — Ah… — assentiu com a cabeça, mordendo o interior de suas bochechas — Hm… Quer cupcake? — estendeu o cupcake que segurava em suas mãos — Eu acabei de abri-lo, e vi que você não pegou uma bandeja e… Você precisa se alimentar e… Quer? — ele parecia ficar indeciso. Oh, céus, mais um mar de pena.
    — Não, obrigada. Pode ficar com ele. Gente, eu ainda não morri, ok? Relaxa, é só estresse, não sinto tantas dores assim… Minha mãe também tinha — menti — Não sei certamente se isso pode se herdar, mas ela também tinha… Eu estou bem, sério.
    — Nada disso. — Jennifer cruzou os braços. Ela era uma das garotas mais lindas do colégio, tinha longos cabelos loiros e lisos, e olhos azuis claros e lindos, da cor de água cristalina. Sem contar seu corpo perfeito, pelo qual todas tinham inveja — Estamos preocupados por Dave. Fala sério, ele enche até o ânus de cerveja, e depois todo mundo fica com essa cara de bad por causa que ele entrou em coma alcoólico? — riu fraco. Jenn era sincera demais. — E ah, já o vi usar LSD também, foi super engraçado. — deu um gole em sua coca-cola — Lembro que estávamos em uma chácara, meu ex era amigo dele, e eles começaram a usar LSD. Dave estava super receoso, porque tipo, era a primeira vez dele, né? — fechei o rosto. Minhas bochechas enrubesceram, e Lana e Patrick estavam do mesmo jeito, provavelmente preocupados comigo — Foi mega engraçado, porque eu estava fumando, daí ele viu o meu cigarro e começou a gritar “Pessoal, estamos em um cinzeiro, estamos dentro de um cinzeiro, e queima!” — gargalhou, e vi que Patrick segurou uma risada — Ele começou a ter umas crises de falta de ar, foi completamente engraçado. Ele até saiu correndo e… — me fitou, e imediatamente parou de falar — Ai… Desculpa…
    Foi uma questão de segundos até que meus batimentos acelerassem mais do que já estavam acelerados, e eu começasse a suar frio.
    Não, não não… Pense em algo, pense em algo — Eu tentava à todo custo controlar-me. Me desliguei do mundo e fechei os olhos, respirando fundo algumas vezes, até que eu me estabilizasse. Assim que senti minhas batidas se regularem, suspirei de alívio.
    — … ei, me responde, por favor! — Lana implorava, assustada.
    — Porra!  — gritei, me arrependendo assim que minha boca fechara. Evitar stress, evitar stress — Eu estou tentando me acalmar, será que é incapaz de entender, Lana? — imediatamente levantei-me da mesa.
    Procurei uma mesa que estivesse vazia, sem sucesso, o máximo que consegui foi uma mesa com apenas dois garotos. Um tinha cabelos castanhos e cacheados, e o outro tinha pele morena e cabelos pretos alinhados. Corri até aquela mesa e sentei-me, abaixando a cabeça.
    — Desculpem-me… Não deveria ter invadido aqui, mas… A minha mesa estava muito cheia, e eu precisava de silêncio… — levantei a cabeça, encarando-os. Logo lembrei-me de quem eram. Harry Styles e Drew, um garoto que eu não sabia o sobrenome. Harry era um garoto que não gostava de se misturar muito, era indiferente, jamais demonstrava sentir nada. Ele estava lendo algum livro, pelo o que eu pude enxergar, era Dexter. Ótimo gosto. Drew era o tipo de garoto que sempre tentava se dar bem imitando outros, mas não dava certo.
    — Tudo bem, gatinha — Drew disse, sorrindo maliciosamente — Abrimos exceções, não é, Harry? — Harry deu de ombros, me encarando apenas por míseros dois segundos, sem demonstrar nenhuma reação.
    Era melhor assim. Os dois calados, e eu poderia ter paz, com meus fones de ouvido, até o fim do intervalo.
***
    Rodei a chave na fechadura duas vezes, e quando ouvi o ranger da porta, me deparei com Peter, sorrindo. Sorri de volta, e me ajoelhei para olhá-lo.
    — Ei, o que foi? — perguntei, sorrindo.
    — Nada, ué… Eu só queria falar que eu amo você, e por favor não entra no quarto agora.
    — A-hã! — gargalhei — Eu sabia que isso estava cheirando coisa errada… O que o mocinho aprontou?
    — Se eu falar você vai brigar comigo? — perguntou, manhoso.
    — Depende — rapidamente o peguei no colo, o que fez com que ele soltasse uma pequena risada.
    — Vamos ver… — dei um beijo em sua bochecha e subi as escadas, até chegar ao meu quarto.
    Quando cheguei, o meu quarto estava cheio de brinquedos, todos espalhados. O coloquei no chão.
    — Peter! — ri — Por que fez isso?
    — É que a mamãe disse que não era pra eu fazer bagunça no meu quarto…
    — Ah tá, e daí você vez fazer isso no meu, é?
    — Desculpa — caminhou até minhas pernas, as abraçando.
    — Tudo bem… Agora vai fazer a lição de casa, ok? Também preciso fazer a minha — passei a mão em sua cabeça, e logo eu estava sozinha no quarto.
           Sentei-me na cama, e disquei o número de Nathan. Eu precisava saber onde Dave estava e eu iria descobrir.
    — Alô? SeuNome? — sua voz era rouca e calma
    — Nathan, eu preciso muito, de uma vez por todas que me diga onde Dave está. — fui direto ao ponto — Por favor, eu estou pedindo com toda a calma possível, não quero briga entre nós, apenas quero saber onde Dave está. Por favor, faça isso por mim…— minha voz era calma —  Diga, somente diga onde ele está. Sei que talvez não irá me dizer porque tem medo de que e vá atrás dele e acabe me machucando, mas eu juro que me deixando sem nenhuma informação você só me piora…
    — Ele está no hospital… Ele vai ficar bem, é sério. Não precisa se afobar…Olha, eu prometo quer irei te ligar hoje à noite para a gente conversar melhor, tenho vários textos para construir aqui na redação…
    — Está falando sério? — perguntei, ainda calma
    — Cite apenas uma vez em que eu menti para você. Crescemos juntos, SeuNome. Sua mãe me criou. Eu não sou um cara qualquer não, ok?
    — Tudo bem. Espero sua ligação — desliguei.  
     Fui até minha escrivaninha, coloquei os fones e comecei a fazer as tarefas de história, para passar o tempo. Não é algo tão complicado fazer fichamento de algumas míseras páginas — pensei.
     Algo que era pra ser fácil e rápido acabou sendo uma tarefa demorada, graças à minha cabeça que não parava de latejar.
     Assim que consegui terminar, depois de umas duas horas, chequei meu celular, e nada. Suspirei, e decidi tomar alguns calmantes para dormir. Talvez aquilo não fosse certo, mas minha cabeça estava tão confusa, que provavelmente aquela seria a única solução.
***
    Acordei. Tudo estava escuro, e eu não conseguia enxergar nada. Tateei o móvel ao lado da minha cama, em busca do botão da minha iluminaria. Assim que achei, peguei meu celular e chequei a hora. Três e quarenta e cinco. Dei um pulo da cama, e vesti a primeira roupa que estava em meu guarda-roupa.
    Ao terminar de me arrumar, peguei meu celular e disquei o número de Nathan.
      — Alô?! – sua voz era rouca, voz de quem acabara de acordar. – SeuNome?
      — Você mentiu.
      — Fique calma.
      — Não! Não! — meu desespero havia aumentado — Nathan, você não seria tão idiota à ponto de me fazer esperar! Meu namorado está em coma alcoólico, e eu não posso saber de nada? Já bastava eu receber notícias pela Lana, agora terei que esperar até amanhã? Eu não quero! Me leve até lá, quem está com ele?
      — Eu estou com ele. — disse, ainda calmamente — Dave está em boas mãos. E não, não deixarei que você venha até aqui.
     —  Nathan… — engoli à seco, sussurrando — Não me obrigue a fazer alguma besteira…
       —  O que você pode fazer? Já falei à seus pais que talvez você queira fugir para encontrar Dave, todas as portas de sua casa estão trancadas. Pode tentar sair, você não vai conseguir. — filho da mãe.
            Caminhei até a porta de meu quarto, e tentei abri-la. Ela também estava trancada. Olhei para a minha janela, e ela estava coberta apenas pela cortina
      — Minha janela. — eu estava chorando de desespero.
      — Não. — aumentou o tom de voz — Você pode se machucar!
      —  Minha janela — repeti, respirando fundo várias vezes.
      — SeuNome… Por favor, me escuta! Isso não será legal, tanto para você, quanto para Dave. Ele já está bem, já viemos para casa, o coma dele já se encerrou, durou apenas vinte e quatro horas. Está tudo bem. Agora vá dormir.
      — Ok. – desliguei. Já que eu sabia que ele estava em casa, me acalmei. Provavelmente Nathan ficaria muito irritado comigo, mas eu não ligo.
      Consegui sentar na janela. Senti um calafrio ao ver qual era a minha distância do chão. Eu jamais havia encarado uma altura assim sem nenhum equipamento. O chão da calçada era de concreto, provavelmente se eu não caísse em pé, poderia me machucar. Meu coração estava acelerado, o clima estava nublado. Pensei em desistir, mas eu apenas deveria ser rápida. Nathan poderia muito bem desconfiar de que eu quero ir até lá, e acabar vindo me buscar, e talvez ele seja mais rápido que eu, já que tem carro. Encarei a altura mais uma vez, e por um segundo, hesitei pular. Minhas mãos estavam tremendo de medo. Coragem,SeuNome, coragem. Respirei fundo, fechei os olhos, e me joguei. Senti um frio na barriga, e a força do vento jogar meus cabelos ao alto. Sorri. A sensação era de adrenalina, algo que jamais senti. Era uma sensação tão...incrível, e ao mesmo tempo me dava medo.
    Caí em pé. A dor de minhas pernas era tão insuportável que me desequilibrei, caindo de cara no chão.
    —  Ai meu Deus! Você está bem? — uma voz rouca e calma me assustou. Com dificuldade, levantei o rosto, que ardia. Era o Harry, da escola?!
      Estou… —  segurei a mão que ele cedia, levantando-me – De onde você surgiu? — perguntei, limpando as calças.
      — Bem, isso não interessa. – levantei o rosto para encará-lo. Ele trajava calças jeans, uma blusa simples e um tênis all-star. Ele estava com um cigarro na mão, o cheiro me fez tossir. — Seu rosto... — jogou o cigarro longe – Está machucado.
      — Droga! — passei a mão no lado direito, o qual ardia. Meus dedos estavam umedecidos de sangue. — Está doendo tanto… — ele se aproximou de mim.
      — Se meus dedos não estivessem sujos, eu poderia tocar… — Arrancou sua blusa, passando-a levemente em meu rosto — Para onde você está fugindo?
      — Indo atrás do meu namorado. — ri fraco — Bem, inclusive, eu tenho pressa, então, já vou indo. Obrigada pela ajuda. — saí correndo. Ouvi-o gritar, chamando minha atenção, mas eu ignorei. Meus passos eram acelerados, e depois de alguns minutos, eu estava distante dali.
      Parei logo na segunda esquina, ofegante. Estava tudo tão escuro, que se não fosse por um fio de luz eu já não conseguiria enxergar nem por onde eu andava. Comecei a chorar. Meu rosto estava doendo, minhas pernas, e principalmente meu coração. A escuridão era tão forte que me dava medo, e pensei em voltar atrás. Em desistir logo de tudo isso, e de Dave. Será que valia à pena todo esse sofrimento por alguém que não sei se amo?
        Continuei a andar. Eu amo o Dave. Eu não sei se amo o Dave.
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Oi! Espero que tenham gostado... Solto logo um spoiler: Dave, a princípio, parece não ter nada de importante, mas acreditem, ah, ele tem sim! Futuramente irão perceber.

Quero agradecer por tantas visualizações na sinopse... Vocês são demais!

Tá ansiosa(o) pra saber o que acontece depois? Gostou deste capítulo? Ó, então faz assim: leu, comentou, e pronto!

Continuo com um comentário só!

Um comentário:

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